Fiquei
de queixo caído ao ler na revista Época (09.04) uma entrevista com o grande
cosmologista americano Lawrence Krauss, uma das mentes mais festejadas da
atualidade, em que ele afirma que Deus é redudante, ou seja, com Deus ou sem
Deus é tudo a mesma coisa. Na mesma entrevista, ele diz ainda que postular a
existência de Deus não passa de preguiça intelectual de quem é religioso! Não
satisfeito, ele decreta que a ciência finalmente chegou ao ponto de poder
explicar a criação do Universo a partir do nada; tudo é obra do mero acaso.
Uau! Eis aqui um grande insensato, diria Santo Anselmo. Vejamos por que.
Anselmo,
filósofo medieval, parte do versículo do salmo 13 que diz: “O insensato diz em
seu coração: Deus não existe”, para fundamentar a sua prova racional da
existência de Deus. O insensato, diz Anselmo, para negar Deus, deve
forçosamente reconhecê-lo em sua mente. Reconhecendo-o na mente estará de acordo
que Deus, ao menos em seu pensamento, é aquilo do qual nada de maior se pode
pensar. Mas no mundo real, continua explicando Anselmo, tudo é maior do que
qualquer idéia que trago na mente. Ora, existe aqui uma contradição entre o
pensamento e a realidade que não podemos suportá-la. Logo, conclui ele, Deus
existe tanto na mente quanto no mundo real. Bingo!
Outro
filósofo medieval que fará um grande esforço para demonstrar a existência de
Deus pela razão será Tomás de Aquino, nas célebres cinco vias. As provas de
Tomás de Aquino partem sempre da contigência e imperfeição que afeta todo o
mundo criado. Tomás se pergunta pela causa desta contigência e, investigando a
fundo, sabe que não pode continuar se perguntando ad infinitum. Ele chega então a conclusão que somente uma causa
necessária é capaz de interromper o eterno perguntar-se pela contigência do
mundo. Esta causa necessária, afirma Tomás na Suma Teológica, é aquilo a quem
as pessoas dão o nome Deus!
Ainda
assim, Lawrence Krauss não depõe as armas: ele sustenta que Deus não serve para
explicar a origem do universo, pois segundo ele não havia nada no universo,
apenas partículas de energia. Mas, alto lá! Isto já é alguma coisa, certo? Quem
criou estas partículas? Isto ele não responde. Para ele, as pertículas estavam
lá e pronto. A grande contradição de Mr. Lawrence é que, para ele o nada é
alguma coisa... mas deixemos a resposta para Tomás.
Uma
das vias que S. Tomás de Aquino usa para demonstrar a existência de Deus é a
chamada causalidade eficiente. Esta via procura explicar o “começar a ser”, o
iniciar-se das coisas, tal como uma planta, um animal, eu mesmo, pois nós não
existimos desde sempre, antes não éramos e agora somos. Logo, é necessário
afirmar uma causa eficiente primeira, causa não-causada, a quem chamamos Deus. E
isto vale também para as partículas de energia que Lawrence Krauss,
erroneamente, considera ser o nada...
A
crítica mais injusta feita pelo cientista é a de sermos belos preguiçosos
intelectuais. Muito pelo contrário. A filosofia medieval deixou de herança para
a modernidade a possibilidade de pensar Deus não apenas pela fé, mas também
pela razão, e isto é fruto de um grande esforço intelectual, feito pelos
pensadores daquela época. Pensando Deus pela fé e pela razão evitamos de cair
no simplismo daqueles que acreditam, e por isso acham tudo possível, e daqueles
que não acreditam, e por isso acham tudo impossível, não é Mr. Krauss?
pe.Gil, scj
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