Conhecemos
a lenda do Quo Vadis. Em Roma se dá a grande perseguição de Nero aos cristãos.
Pedro é pressionado pelos Cristãos a fugir de Roma para não ser morto, pois ele
é a pedra sobre a qual Cristo fundou a Igreja. Pedro segue o conselho dos irmãos.
Mas quando está para atravessar as colinas de Roma e assim fugir da ira de Nero,
eis que ele vê Jesus passar por ele. Ele então pergunta: “Quo vadis, Domine?”
que quer dizer, “Onde vais, Senhor?” no que Jesus responde: “Vou a Roma morrer
uma segunda vez pelos meus, já que você foge”, então Pedro voltou, enfrentou
seus perseguidores e morreu mártir em Roma, crucificado de cabeça para baixo,
pois ele dizia que não era digno de ser crucificado do jeito que Cristo foi.
A
estória do Quo Vadis se repete hoje. Jesus vai sofrer e morrer de novo em cada
cidade e lugar onde haja perigo, perseguição e morte. Ainda hoje existem
discípulos e discípulas que morrem junto com Cristo, para que outros vivam,
basta lembrar aqui Ir. Doroth, que mesmo ameaçada de morte e depois executada,
não abandonou o seu povo do Pará.
Nós
também, ainda que não estejamos em uma situação dramática, devemos estar
dispostos nesta semana santa, a ir morrer com Jesus.Morrer para os nossos
pecados, que são tantos. É com este sentimento no coração, de sermos solidários
com Jesus e que deveríamos iniciar a Semana Santa.
Acabamos
de ouvir o inteiro episódio da Paixão de Jesus. Um dos fatos que mais nos
golpeiam é a traição de Pedro. Jesus já tinha anunciado na última ceia, e aqui
nós vemos todo o desenrolar desta traição. Este evangelho é ditado a Marcos por
Pedro. O evangelista Marcos era uma espécie de secretário de Pedro. Isto nos
leva a crer que o próprio Pedro quis que a sua traição constasse no evangelho:
“escreve aí que eu traí Jesus!” Ele faz uma espécie de confissão pública. Ele
não está se importando com o seu bom nome, mas ele quer que todos tenham a
experiência que ele teve: não importa o tamanho do pecado, a misericórdia de Deus
é sempre Maior!
Interessante
compararmos a traição de Pedro com a traição de Judas. Também esta Jesus
profetizou, assim como profetizou a traição de Pedro. Duas história de traição.
O evangelho conta que na Paixão Jesus passa por Pedro e o olha. Com Judas fez
ainda mais: o beijou. Dois discípulos, dois companheiros de Jesus. A palavra
companheiro signica cum panis, ou
seja , comer junto o pão. Dois homens que comim juntos com Jesus o pão. Dois
traidores, mas com um final de história diferente: um confia na misericórdia,
quando Jesus o olha, vai chorar amargamente. O outro, depois de beijar Jesus e
entregá-lo, vê a grande desgraça que fez e vai se enforcar. Duas traições, um
acredita na misericórdia e o outro não, se desespera e se enforca.
Mas
estas histórias se repetem hoje: as vezes somos como Pedro. Não conseguimos ou
nos envergonhamos de dar testemunho de Jesus. De dizer que nós acreditamos
nele. Que vamos à missa todo domingo. Que confessamos e comungamos como bons Cristãos.
Temos vergonha de parecer carolas, piegas. Falamos com o nosso silêncio: não
conheço este Jesus!
Ou
tantas vezes somos como Judas. Judas vendeu Jesus por trinta dinheiros. E nós
que tantas vezes na nossa vida o vendemos até por menos. Colocando o mundo
material a frente do mundo espiritual. E pior para nós que sabemos melhor do
que Judas quem é Jesus.
Pedro
teve remorso e chorou amargamente.Mas também Judas teve remorso, tanto que
disse que tinha traído sangue inocente e quis devolveras moedas. Onde está então
a diferença? Pedro confiou na misericórdia de Deus, Judas não! Eis aqui a
grande tragédia de Judas.
A
biblia nos apresenta toda uma galeria destas histórias paralelas de pecado que
se concluem de modo bem diverso. Pensemos em Caim e Davi. Caim mata o seu irmão
Abel. Davi manda colocar Urias nas primeiras fileiras onde a Guerra era mais
violenta, para que Urias morrese e assim ele, Davi, ficar com a sua mulher.
Dois assassinos. Dois finais diferentes. Caim até hoje é execrado e Davi até
hoje é honrado, merece até mini série na Record. Qual a tragédia de Caim? Ele
pensou que o seu pecado fosse muito grande para ser perdoado. David, pelo
contrário teve confiança na misericórdia de Deus e gritou: “Piedade de mim ó
Deus, na sua misericórdia cancela o meu pecado (Salmo 51, miserere).
Sobre
o calvário a mesma coisa. Dois homens crucificados junto com Jesus, um a sua
direita e outro a sua esquerda. Um zomba de Jesus, não acredita no seu poder,
morre desesperado. O outro invés tem confiança em Deus e pede para que Jesus
recorde dele quando estiver no paraíso. E Jesus promete: Hoje mesmo estará
comigo no paraíso! Que grande festa.
Ainda
hoje tantas pessoas que arrastam os seus pecados pela vida, e não confiam que
Deus podem perdoá-las. Uma senhora, esta semana mesmo em prantos, me pedia
desesperada: será padre, será que Deus vai me perdoar? Será que eu vou receber
a salvação? Será? Eis aí, achando que o seu pecado é maior do que a
misericórdia de Deus.
Não
existe forma mais segura para começar a semana Santa do que mergulhar na
misericórdia do Senhor. Fazer a páscoa significa mergulhar na misericórdia,
nadar no coração misericordioso de Deus. Saber que Deus te escolheu, te trouxe
a vida, te ama e caminha contigo. E se vc cair ele vai te levantar! Acredite nisto!
Cair todo mundo cai, fica no chão quem quer porque a misericórdia de Deus nos
levanta.
Mesmos
os homens que enfiaram os pregos nas mãos de Jesus, que torturam Jesus, colocaram
nele uma coroa de espinhos, humilharam Jesus, mesmo eles foram salvos. Aqueles
que crucificaram Jesus foram salvos! Porque, bem no momento que eles estavam
pregando Jesus na cruz , Jesus rezou: Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o
que fazem. E Deus que em vida escutava sempre a oração de Jesus, não poderia
deixar cair no vazio aquela oração de Jesus na cruz. Sim, aqueles que
crucificaram Jesus estão no paraíso, e ali proclamam pela eternidade até onde é
capaz de chegar a misericórdia de Deus.
Uma
criança na catequese disse certa vez: Eu sei onde Judas errou. A catequista
ficou boquiaberta e esperou a resposta. Vamos , fale, onde Judas errou? E a
criancinha: Ao invés dele se dependurar em uma árvore para se enfocar, ele
deveria ter se dependurado no pescoço de Jesus. E aquela criancinha tinha
razão. Belo seria se Judas tivesse agarrado ao pescoço de Jesus e tivesse
confiado na misericórdia. Hoje, com certeza ele seria tão festejado quanto
Pedro.
Está
aqui uma bela atividade para a Semana Santa. Avalie a sua vida. Avalie a sua
história. Veja os seus erros, os pecados na sua vida. E não os considere maior
que a misericórdia do Senhor. Quantas mulheres torturadas por terem feito
abortos e hoje não conseguem dormir em paz e perguntam: Padre, oque eu faço? Eu
digo, minha querida, não existe no mundo pecado maior do que a misericórdia.
Confia em Deus, peça perdão, faça como Davi: Deus cancela o meu pecado.
Cada
homem, cada mulher, cada jovem, cada criança, cada idoso que entra neste
Santuário e olha para esta Cruz deveria sentir uma grande alegria no coração e
pensar: o meu pecado foi cancelado. A fonte da misericórdia que brotou aquele
dia na Cruz, toca-nos até hoje. Obrigado, Senhor!