Na missa deste domingo, a mensagem da primeira leitura
tem tudo a ver com a mensagem do evangelho. Podemos considerar a primeira
leitura uma questão ( a enfermidade
que vira a vida de cabeça para baixo) e o evangelho como resposta a esta questão ( Jesus que cura todas as enfermidades). De
fato, na primeira leitura nos é explicado como a pessoa deveria ser (mal) tratada
caso viesse contrair a lepra. Um mal que aterrorizava naquele tempo! A lepra era
considerada uma maldição divina, e se alguém estivesse com o mal da lepra era
porque este alguém havia cometido um pecado e por isto, merecia ser punido. Ninguém
sentia compaixão pelo leproso, pois pensava-se que ele estava tendo a paga que
merecia por seu pecado.
O leproso perdia tudo! Perdia o contato das pessoas
que amava, pois a lei dizia que ele devia ficar afastado de todos, banido da
cidade. Devia vestir trapos de roupas, estar com os cabelos desgrenhados, com a
cabeça descoberta. Ou seja, a sua vida se transformava em um trapo. Não havia
por alí nenhum cuidado sanitário para suas feridas, pelo contrário, ninguém
deveria tocar nele. Caso tocasse, se
tornava também impuro. E além de tudo isto, o leproso devia sempre andar
gritando: sou impuro, sou imundo, alertando as pessoas para que não se
achegassem. Eis aqui a terrível vida de alguém que contraia a lepra. Este
alguém era a personificação da maldição. Era uma maldição ambulante! E no
evangelho de hoje, é esta pessoa execrada que procura Jesus.A primeira leitura nos traz o modo do agir de Deus no Antigo Testamento e o evangelho nos traz o modo de agir de Deus no Novo Testamento. Poderíamos perguntar: Temos então dois deuses? É evidente que não, pois Deus é um só, Ele não muda, pois se mudasse não seria Deus. O que muda é a forma que Jesus nos ensina a olhar para Deus. Um grande teólogo espanhol escreveu um livro cujo título é :“Do terror de Issac ao Abbá de Jesus”. Segundo sua teoria, a idéia de Deus do Antigo Testamento representa um terror para o pequeno Issac, já que Ele (Deus) ordenou o seu sacrifício (de Issac); já a idéia de Deus do Novo Testamento é a de um Deus que é Pai, o próprio Jesus ensina a chamá-lo de Paizinho. Deus mesmo não muda, o que muda é a percepção que nós temos sobre ELE. Por isso somos convidados a conhecê-lo cada vez mais.
O leproso do evangelho não vem identificado, é um anônimo (e neste caso, quando o evangelho apresenta um anônimo, podemos considerâ-lo como se fosse cada um de nós). O leproso perdeu tudo, menos a sua fé em Deus. Se joga de joelhos, porque reconhece Jesus como Rei, como filho de Deus e grita; “Se queres tem o poder de curar-me”. O leproso se agarra a vontade de Deus: “Se queres...” O leproso sabe que a vontade de Deus é nos fazer todo bem, nos dar a felicidade, nos dar a paz. E o leproso confia nesta santa vontade divina.
Jesus, cheio de compaixão, reconhece o sofrimento do leproso, não é indiferente a ele! E Jesus toca no leproso. Que maravilha! Não são as trevas que contaminam a luz, mas é a Luz que abate as trevas! E quando Jesus toca no leproso, ele Jesus torna-se impuro aos olhos da lei, porque a lei dizia que quem tocava em um leproso, se tornaria ele também um impuro. Mas Jesus não tá nem aí, pois sabe que não é ele que se suja ao tocar no leproso, mas sim o leproso que se limpa ao sentir o toque do Senhor.
Podemos imaginar a alegria do Senhor quando a pele do homem, castigada pela lepra começou a ficar lisa como a pele de um bebê. Por isso o homem não obedeceu a Jesus que o mandou ficar quieto, pelo contrário, saiu eufórico, contando aquela maravilha para todos. E todos então passam a procurar Jesus, que por isto, não podia mais entrar em nenhuma cidade.
A concepção de Deus passada hoje na primeira leitura é um Deus que está da parte dos puros. Que isola quem não é puro, Castiga quem não é puro. A concepção de Deus do Evangelho é de um Deus que está junto com os impuros, toca neles, os cura. Não é que Deus suja as mãos com os impuros, mas os impuros é que tornam-se limpos pelo toque de Deus. São Francisco, antes de sua conversão , havia aversão aos leprosos, eles o incomodavam profundamente. A partir do momento que se converte, no primeiro encontro com um leproso, o abraça e beija. Acolhe. Eis o fruto da conversão.
Um jovem carioca salvou a vida de um “leproso” do nosso tempo. Ao ver um grupo de jovens que agredia um morador de rua, ele os enfrentou. Foi agredido também, quase morto. Vítor é o seu nome. Como Jesus, Vítor tocou na indiferença que muitos nutrem pelos irmãos de rua. E pagou caro por isto. Como Jesus...
pe. Gil
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