Fiquei de queixo caído quando li no jornal
“O Globo” (07.02) que um rapaz chamado Vítor, ao defender um morador de rua que
estava sendo linchado por um grupo de jovens, passou a ser barbaramente
espancado por estes, a ponto de quase perder a vida. Vitor já é considerado um
herói do nosso tempo, pois relativizou um bem maior (a própria vida) em vista
de praticar uma grande virtude (defender o fraco). A atitude deste jovem
carioca nos mostra que a coragem não
é uma virtude em extinção.
A palavra coragem é originada do latim “coraticum” que por sua
vez é derivado de cor, “coração”.
Isso porque, em épocas remotas, este órgão era considerado a sede da coragem. S. Tomás de Aquino nos ensina que o corajoso tem em si uma firmeza de
alma, que o ajuda a suportar e afastar as mais terríveis dificuldades, especialmente
perigos graves. Logo, ter coragem
é sentir depreender-se de si uma força de ânimo, que faz com que o coração não
se atemorize com o perigo e afronte assim riscos consideráveis. Um divertido
provérbio italiano diz: “Quem não tem coragem, tenha pernas!”. Isto porque o
corajoso domina o seu medo e enfrenta o perigo.
Eis aqui o ponto: ter coragem não
significa não ter medo. Certamente, Vítor sentiu muito medo ao
enfrentar aquela gang furiosa, mas não deixou que o medo o paralizasse. Ter
coragem é ter a capacidade de agir, não obstante o medo. As pessoas corajosas
sentem medo sim, mas não permitem que o medo as domine. Elas reconhecem,
aceitam e enfrentam o próprio medo, ainda que este as aterrorize. Mas é aí
então que elas adquirem sempre mais coragem, como em um círculo virtuoso:
quanto mais enfrentam o medo, mas ganham coragem para enfrentar os obstáculos
inerentes à vida humana.
Roberto Saviano, um jovem italiano, vive atualmente
vigiado 24 horas por dia pelos Carabinieri
(a polícia italiana), pois foi jurado de morte pela Camorra, a temível máfia
napolitana. Isto tudo porque teve a coragem
de denunciar o grande mal que esta organização criminosa faz ao seu povo e à
sua região (sul da Itália). Ele desnudou de forma excepcional, os meandros da
Camorra e seus tentáculos corruptores na Itália. Sua denúncia transformou-se em
um livro intitulado “Gomorra” que já vendeu mais de 10 milhões de exemplares em
todo mundo, traduzido em 54 línguas e transformado em um filme muito premiado,
sendo inclusive exibido aqui no Brasil. Salviano comprometeu a sua liberdade de
ir e vir, mas ajudou a lançar luz para uma praga que aflige o seu povo.
Vitor e Salviano são dois exemplos de coragem
não só para a juventude, mas para todos nós. Eles nos mostram que coragem não é
ausência de medo, mas sim a consciência que na vida existe algo maior e mais
importante que o medo.
pe. Gil
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